Elice Botelho
Foto – Eddie Junior
Era uma tarde de verão com muito calor, no centro de Campinas em meio as medidas de proteção contra a covid-19.
O mundo inteiro estava comemorando os primeiros testes positivos dos imunizantes que estavam sendo testados nos quatro cantos do planeta.
A redação do Imprensa Preta tinha agendado essa entrevista e devido as restrições, fomos obrigados a cancelar por duas vezes, pois a cidade entrara na fase vermelha e essa que seria a primeira das matérias especiais sobre mulheres pretas, para um editorial em homenagem ao dia internacional da Mulher, acabou ficando na espera assim como outras personagens que devem aparecer futuramente.
Lembro nesse dia ter falado com nossa Menina Mulher da pele preta umas duas vezes, antes de nos encontrarmos na Praça Bento Quirino, onde ironicamente é o marco zero da cidade.
Quando cheguei, ela já estava esperando mais do que depressa, respeitados os protocolos devidos, começamos com uma conversa franca e muito amistosa. Sua simplicidade e honestidade são suas marcas, além é claro das opiniões francas sem muito rodeio.
Elice Botelho é uma Mulher com jeito de menina, nascida e criada na região do Distrito do Ouro Verde, é formada em Técnica do Meio Ambiente pela ETECAP(Escola Técnica Estadual “Conselheiro Antônio Prado”)que fica na cidade de Campinas, é gestora ambiental pela USP.
Só essas credenciais já seriam o bastante mais todos nos sabemos que uma Mulher preta precisa de muito mais para conseguir um lugar de destaque e respeito, não que isso importe a ela que deixa muito claro em suas primeiras palavras, “Eu sozinha não sou ninguém”, Artesã desde 2018 e militante desde 2009, participou da fundação e é membra do coletivo nacional Rua – Juventude Anticapitalista, no Movimento Negro Unificado (MNU) e atuando em Campinas também no espaço sociocultural Quilombo Íris de Jesus. Membra do Conselho de Políticas Culturais de Campinas no biênio 2021 – 2022 representando a Câmara de Cidadania Cultural. Em 2020 foi candidata a vereadora junto com Pérola Brandão em uma chapa coletiva, obtendo 2631 votos.
Um Curriculum de respeito não é verdade, Sim é, mais o que impressiona é sua simplicidade e a forma com que revindica os seus direitos.
Suas palavras são simples, mais carregadas de complexidades, ainda mais quando lhe pergunto sobre pautas de revindicações para seu povo, suas respostas não encontram dúvidas são certas e sem rodeios.
Segundo Elice Botelho o racismo estrutural caminha de braços dados com o sistema capitalista que impõem miséria a muitos em troca de um bem maior a poucos. Eu lhe pergunto sobre racismo e quando começou a sentir e sofrer , ela sorri respira e me responde que desde de criança na escola por causa de seus cabelos foi precocemente apresentada a este mal social que divide e impede a ascensão de muitos que ficam esquecidos nas periferias dos grandes centros e das cidades , fala também que nunca é fácil mais que é preciso lutar pra mudar toda essa realidade , e sem tempo emenda uma questão de ordem que nos dias atuais precisa ser falada que é a mixogenia,(ódio ou aversão às mulheres) , a diferença salarial o tratamento, e o que se faz quando no lugar se encontra uma mulher. Infelizmente ainda estamos anexados a essa realidade ruim e medieval que impera no mundo atual , e que com a pandemia ganha números assustadores de violência contra a mulher e o aumento dos feminicídios ( crimes contra a mulher) , criado em abril do ano passado, o canal online Projeto Carta de Mulheres do TJ recebeu mais 1.500 relatos , segundo dados do Caocrim(Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público do Estado de São Paulo) , houve um aumento no número de pedidos de medidas protetivas deferidas em 2020, bem como um grande aumento no número de pedidos de medidas protetivas. Foram 3.667 ciências de deferimento de medidas protetivas para 7.277 em 2020, o que representa um aumento de 98% no deferimento de medidas protetivas.
Eu lhe pergunto ainda sobre as suas ações praticas, e Elice Botelho fala das hortas comunitárias um dos seus projetos no Distrito do Ouro Verde, e com grande empolgação me fala das expectativas para Conselho de Políticas Culturais de Campinas no biênio 2021 – 2022.
Quando perguntada sobre à Eleição Municipal 2020 , e como ela estava encarando tudo aquilo , a sua simplicidade mais uma vez se fez plena lembro-me como se fosse hoje, pois a primeira palavra que lhe escapa é coletivo,seguida de como foi difícil fazer uma campanha levando propostas reais e concretas de fácil implantação , contra campanhas de luxo, candidatos vitalíciose promessas absurdas.
O que mais me chamou atenção, foi a sua preocupação em evidenciar o trabalho de todo o grupo que esteve com ela durante todo tempo, e de pouco tentar chamar par si todo o sucesso.
A conversa estava muito boa mais já começava chegar a noite, precisava correr pra ter acesso ao transporte público,(ônibus), que nesta fase pandêmica acredite não é nada fácil, e ambos dependiam do mesmo processo.
Por último falamos de políticas e programas sociais para o povo preto e periférico , e novamente Elice Botelho foi direta e prática ao se referir que enquanto não houver uma mudança drástica no sistema e um movimento de reparação verdadeiro fica muito difícil falar em mudanças. Cheguei a falar sobre grandes mudanças com as vitórias conquistadas pelos Movimentos Negros no Brasil , como o empoderamento Feminino , e ela logo disse que reconhecia essas conquistas mais que ainda eram tímidas e que poderiam ter influências maiores se não fosse a falta de enganchamento de muitos setores da sociedade civil e principalmente o reconhecimento de privilégios da branquitude.
Foi uma grata surpresa, poder entrevistar e conhecer pessoalmente, Elice Botelho, trazer um pouco de seus ideais para as páginas no Imprensa Preta, a força com que empreende e segue é surpreendente, sua simplicidade é verdadeira e suas palavras demonstram como é fácil quando se sabe o que realmente precisa ser feito pra mudar, sua determinação mostra que está no caminho certo e que o futuro da História da cidade de Campinas para um bem maior está garantida.
Suas últimas palavras foram, “não sou nada sozinha”, essa talvez seja a reflexão para todos nos, passada por essa guerreira, Menina , Mulher da Pele Preta.
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