DANDARA LÍDER QUILOMBOLA DOS PALMARES
Para além de esposa de Zumbi dos palmares, quem foi a líder do maior mocambo das Américas?
Dandara dos Palmares como ficou conhecida, chegou ainda pequena no Quilombo dos Palmares estabelecido na Serra da Barriga, na capitania de Pernambuco, onde atualmente é o estado de Alagoas. Ela foi uma mulher negra brasileira, estrategista de guerra, capoeirista e líder em uma das maiores potências pretas brasileiras e junto com Zumbi dos Palmares teve três filhos.
Dandara tinha articulações genuínas dentro da comunidade quilombola, atuava na plantação de alimentos, nos cuidados com os seus descendentes, mantinha-se a frente da liderança de um grupo de homens e mulheres negras, lutando com armas pela libertação total do povo preto no Brasil. Em sua história é possível resgatar o ímpeto pela liberdade e o sentimento de lucidez frente às amarras do sistema escravocrata e o perigo da narrativa hegemônica do branco e suas falácias, como aponta a tradição oral a guerreira destacava-se pela bravura, coragem e, acima de tudo, pela obstinação na resistência pela libertação de seu povo.
Em 1678 o governador Pedro de Almeida, propõe o Tratado de paz para Ganga Zumba (o avô de Zumbi), oferecendo boas condições de vida aos quilombolas, como terras e tratamento digno, além de devolver “às mulheres e as crianças” filhas dos negros que estivessem ainda sendo mantidos sob o seu poder, e como troca ordenava que os habitantes do quilombo mudassem para outro lugar, tornando-se subordinados à corte portuguesa, regularizados como qualquer outro morador da colônia.
No caráter de representante do Quilombo de Palmares, ela chegou a criticar os termos do tratado assinado entre Ganga Zumba e o governo português, opondo-se ao acordo ao lado de seu marido, ressaltando que nesta época Palmares já era responsável por inúmeras fugas e conflitos com o Reino português, representando grande ameaça para os escravocratas.
O Vale do Cucaú em Recife, foi o lugar destinado aos que aceitaram as condições do tratado, além das condições colocadas acima o governador exigia ainda que os mocambeiros não poderiam oferecer qualquer tipo de auxílio aos futuros escravizados que procurassem abrigo.
Dandara estava firme em seu posicionamento contrário ao acordo, preferindo a guerra constante, uma vez que na sua astuta percepção esse tratado seria a iminente destruição da “Nova Angola”, a República de Palmares e a inevitável volta à escravidão.
Após essa situação, Palmares entra em uma crise, se dividindo. Foram poucos que seguiram o líder Ganga Zumba em Cucaú, a grande maioria ficou nas terras de Palmares junto a liderança de Zumbi e de Dandara, sua companheira de luta e afeto.
Assim como previa a guerreira, Palmares foi invadida pelas forças dos escravagistas. Em 06 de fevereiro de 1694, ela atirou-se do alto de uma pedreira para não ser escravizada, na condição em que se encontrava foi preferível a morte do que voltar ao sistema escravocrata e suas atrocidades.
Sua morte ocorreu após a demolição da Cerca Real dos Macacos, o mocambo mais importante de Palmares, o qual concentrava o poder político. Por ser a capital era o mais populoso e onde residiam os líderes da resistência preta.
A junção dos quilombos que constituíam Palmares era denominada pelos habitantes de Angola Janga, a pequena Angola, demonstrando assim a intencionalidade dos quilombolas em formar uma base da nação africana na América, colocando os ensinamentos aprendidos em África como meio de libertação do povo preto brasileiro.
Apesar de considerar o fim de Palmares em 1694, Zumbi, o símbolo de resistência preta no que diz respeito à organização política, administrativa, econômica e na luta contra o sistema escravocrata no Brasil, foi emboscado e assassinado pelas forças portuguesas apenas no ano seguinte.
Ressaltando importância do reconhecimento das personalidades pretas e das contribuições do povo preto na construção do país, em 27 de março de 2019 o Senado reconheceu Dandara dos Palmares como Heroína da Pátria, junto a outros atores marcantes na história preta e na luta contra a escravidão, por meio do Projeto de Lei da Câmara (PLC 119/2018 e PLC 55/2017) de autoria do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) e de Eronildes Vasconcelos Carvalho, atual secretaria nacional de Políticas para Mulheres.