Primeira Parte – Por Antonio Marcelo Campos
Meditação é o caminho da Paz Interior. Com a prática constante e correta de meditação você pode curar o seu corpo, curar a sua mente e renovar a sua vida. Não se trata de uma questão somente de fé ou de considerar a meditação algum tipo de panaceia esotérica. A arte da meditação é uma ciência milenar baseada em princípios lógicos, técnicas precisas e um saber fundamentado por centenas de milhares de praticantes ao longo de séculos
Muitos foram aqueles que praticam meditação para obter saúde e, por praticarem corretamente e com constância, conquistaram saúde. Outros praticaram para fins espirituais e conseguiram uma radical transformação em seu nível de consciência. Há ainda aqueles que praticaram para obter sabedoria, ou seja, para aprender a viver neste mundo de forma significativa, baseada no contentamento, no amor e na benevolência. Também estes conquistaram seus objetivos.
Portanto, seja qual for o seu interesse em aprender e praticar meditação, se você estudar e treinar adequadamente poderá conquistar o seu objetivo.
Três habilidades básicas regem os fundamentos da meditação: Prática da concentração – Aprimoramento da percepção – Cultivo da serenidade.
Este curso não se restringe a uma ou outra religião, e sim ao estudo correto de cada um desses princípios e como podemos considerá-los virtudes naturais da nossa mente. Virtudes são poderes mentais que nos tornam capazes de sobrepujar as inúmeras adversidades que nos são impostas pelo desenrolar natural da vida. Sábios da antiga China costumavam dizer que “é mais fácil permanecermos imóveis num mar revolto do que na vida.” Está nas entrelinhas desse ditado a compreensão de que não nos é possível uma existência sem problemas, pois desejar uma vida livre de problemas já é um grande problema em si mesmo. Se ansiarmos tal condição – uma vida livre de dificuldades – estaremos sempre aflitos, ansiosos e temerosos diante da impossibilidade real de satisfazermos nosso desejo.
Ao invés de cultivarmos esse falso anseio, podemos, através da prática de meditação, cultivar uma mente capaz de lidar com as dificuldades sem experimentar tantos transtornos e contradições. Para obtermos essa condição mental temos que aprender a cultivar virtudes.
Quando trabalhamos firmemente sobre estes três princípios (Prática da
concentração – Aprimoramento da percepção – Cultivo da serenidade) todos os setores da nossa vida são permeados pelas suas características virtuosas. O filosofo André Comte- Sponville, em seu livro Pequeno Tratado das Virtudes, nos dá uma importante elucidação sobre o tema: “O que é uma virtude? É uma força que age, ou que pode agir. Assim a virtude de uma planta ou de um remédio, que é tratar; de uma faca, que é cortar; ou de um homem, que é querer e agir humanamente. (…) Virtude no sentido geral é poder, no sentido particular é poder humano ou poder de humanidade. É o que faz o homem parecer mais humano, mais excelente. A virtude se repete desde Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem”.1
Se analisarmos um pouco as palavras de Comte-Sponville veremos que o que mais falta ao mundo é justamente essa “disposição adquirida de fazer o bem”. E se isso falta ao mundo, falta a nós mesmos, pois o mundo não é outra coisa senão um reflexo vivo das condições obscuras da nossa mente. Se quisermos viver melhor, se desejamos um mundo melhor, temos que começar por nós mesmos. Portanto, acalme seu coração, tranquilize sua mente e aprenda a meditar. Este é o melhor presente que você pode dar a você mesmo e a mais alta forma de caridade que você pode oferecer ao mundo. Aprenda a meditar e ofereça ao mundo a sua paz interior; aprenda a meditar e ofereça ao mundo o seu bom senso, sua integridade e a felicidade serena que nasce do cultivo de uma mente sábia em virtudes, forte em concentração e livre de percepções equivocadas.
1 Sponville, André Comte. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Editora Martins Fontes, São Paulo, 1999
Concentração – É a habilidade mental que nos permite manter o foco em algo e, livres de distrações, nos permite aprofundar na compreensão do que observamos. A concentração é a habilidade que nos ajuda a desenvolver poder interior, pois através dela nos libertamos da coerção constante que os objetos exteriores exercem sobre nós.
Percepção – A percepção possui vários significados e diferentes finalidades. Em geral, ela está ligada ao modo como olhamos as coisas. Em meditação ela significa a habilidade de vermos o funcionamento da nossa mente e reconhecermos quando perdemos o nosso poder de concentração. A percepção pode ser compreendida como um guarda silencioso que, diante do perigo, nos alerta sem criar alardes.
Serenidade – É a habilidade que nos permite sustentar a concentração e a percepção por longos períodos sem nos esgotarmos. Muitas pessoas quando se concentram sobre algo, o fazem com tanto esforço que em um curto espaço de tempo sentem-se incapazes de continuar. Sem a presença da serenidade, nossa concentração pode nos causar fadiga,
congestão em nossos canais e centros energéticos e, consequentemente, aversão à prática de meditação.
O cultivo da serenidade
Para desenvolvermos uma mente serena e estável temos que nos aprofunda na prática da meditação. Podemos encontrar muitas definições sobre o que é meditação, mas em essência meditar é abandonar-se no instante presente. A prática de meditação se fundamente em três qualidades: concentração, percepção e serenidade. Dentre os três fundamentos a serenidade é a habilidade mental que viabiliza o processo como um todo, pois sem sua compreensão e prática, a meditação, que deveria ser fonte de sabedoria e paz, pode ser transformar num processo tortuoso de esforço e resistência. Muitas pessoas praticam meditação como se estivesse cumprindo o desafio de carregar um peso, ou a execução séria de uma tarefa administrativa. Meditar é encontrar leveza no abandono de todo e qualquer sentimento de obrigação em prol da lucidez da compreensão. Sem serenidade todo exercício de concentração se torna pesado e tedioso, e a perceptividade, que é filha da concentração, acaba se perdendo no denso nevoeiro da nossa constante agitação mental, emoções aflitivas e da força descontrolada dos nossos hábitos. O mestre de meditação Thich Naht Han nos ensina que o cultivo da serenidade se fundamenta em é aprender a parar, se acalmar, descalçar e se curar.