Mudamos a estação do ano, num interminável andar do tempo, e não mudamos comportamentos que parecem ser introjetados junto ao DNA humano. Estamos em debate acalorado sobre as razões de ainda existirem guerras, ainda pessoas com fome, ainda mantemos a destruição da Casa Comum e, ainda, fazermos distinção entre pessoas. O que poderia ser apenas um número para análise dos especialistas, as notícias do aumento de negros em vários espaços da sociedade, vira uma bandeira justa de luta para muitos e um motivo para dor de cabeça para outros.
Nas eleições não será diferente. Nem aqui e nem em terras estadunidenses. Mas disso tudo o que me preocupa de verdade são as Fake News que surgiram nessas disputas. Ações mentirosas que afastarão ainda mais os continentes já distante entre ideias, projetos, programas e formações diferentes na nossa comunidade. Não curamos uma ferida recente do distanciamento do posicionamento eleitoral, e vamos partir para uma nova rodada ainda mais cruel, pois dessa vez alguns estarão falando daqueles que viveram as mesmas mazelas da suburbanidade.
As Fake News têm demonstrado o derramamento do esgoto in natura no enorme oceano que o homem construiu para novas navegações, a Internet. Vejo o produtor das Fake News como um franco-atirador, sem o mínimo de preparo. Esse apenas sabe atirar. Sua técnica é ter um alvo desprotegido e o estrago causado de pouco importa, pois não salvará vidas, nem reputação, nem a autoestima da sociedade. São fracos que encontram no submundo da sua forma introjetada de se fazer herói do apocalipse.
A massa pensante da comunidade negra, que tem ascendido aos espaços comuns, e que não deveriam passar dessa identificação, tem consciência e capacidade de ser maior e se proteger dos disparos. Mas uma camada verá o quão pode ser ainda mais cruel uma sociedade que se dá ao luxo em subjugar o outro apenas com o propósito do poder. Pior, não o poder para fazer, mas o poder para se estar em primazia ao igual.
A dor, alimentada por séculos pela incapacidade de desenvolver alteridade, e por outro lado a resiliência, forjada na construção histórica da busca pela equidade, serão pilares para que esse processo de punição, por meio das Fake News, não seja esquecido. Não seja dado como normal. Mas será, não apenas para eleição e afirmação da comunidade negra, mais uma fronteira vencida, mais uma bandeira erguida, mais um passo de uma caminhada de todas e todos.