qua. fev 5th, 2025
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Grandes como Aqualtune, é um projeto realizado em junho no município de Monte Mor, cidade localizada na região metropolitana de Campinas, retratando por meio da fotografia a beleza negra da população, feito pelo Luiz Henrique Santos Moraes de 25 anos, professor de matemática e física na rede pública da mesma cidade.

            Para ele a fotografia começou como um hobby, um lazer aos finais de semana, no tempo livre e que aos poucos está se transformando em seu trabalho profissional. Através de seu perfil na rede social do Instagram e dos seus trabalhos já realizados consegue-se ver a dedicação e vocação para a fotografia.

            Conta que sua maior inspiração para a vida, é sua mãe Marisa Batista dos Santos que também é docente, leciona história e geografia e já realizou muitos trabalhos sobre racismo e questões raciais nas escolas em que trabalha, sendo a última de suas atividades a publicação do livro O Racismo Oculto. Sua mãe conduziu os seus caminhos para a conexão com a negritude

            A proposta foi enaltecer a beleza negra, ressaltando o que está além das lentes, a história dessas pessoas, o resgate de sua humanidade. Luiz colocou em suas redes o convite para os moradores, levando em consideração as normas de saúde, respeitando o distanciamento social e contando com equipamentos de proteção e segurança, de todos envolvidos. 

Os registros foram feitos em lugares do cotidiano, por vezes na frente da casa das participantes, imagens que como ele mesmo retrata são uma tentativa de descanso em meio a tantas notícias de vidas dos jovens negros sendo interrompidas.

“As fotos são uma tentativa de descanso em meio a tanto bombardeio”

Quando perguntado sobre sua decisão em realizar um projeto voltado para esta temática, Luiz Moraes responde de maneira incisiva que começou a acompanhar as comoções das pessoas pelo caso do homem negro George Floyd que foi brutalmente assassinado por um policial branco em 25 de maio, em Minnesota nos Estados Unidos, e como se deu o engajamento na luta antirracista  de pessoas conhecidas que por vezes não se comoviam com as mortes dos negros brasileiros, mortes essas  que não ficam apenas nas estatísticas, são vidas sendo ceifadas a cada 23 minutos. Luiz Moraes, através da arte mostra a denúncia do genocídio dos jovens negros brasileiros, realizando uma provocação sobre a comoção estar voltada apenas para o que está distante, como no caso do adolescente João Pedro Mattos Pinto , assassinado em maio desse ano em uma operação policial no Rio de Janeiro, um caso que não provocou uma comoção tão alarmante.

 Dar visibilidade para as vidas negras brasileira e que estão perto, foi o seu intuito, reconhecendo que a anos as pessoas negras estão denunciando as atrocidades cometidas pelo sistema racista, criado para o benefício da branquitude. Não temos um George Floyd, temos Amarildo Dias, Marielle Franco, Cláudia Silva, Ruan Peixoto, Miguel Santana e tantos outras vítimas da violência policial, e sobre tudo do racismo.

   Em suas palavras essa comoção demonstrou que para maioria das pessoas apenas as vidas negras dos EUA importavam, apenas estar de acordo com o que estava “ em alta”  importava, seja usar laranja pela manhã , ou ver uma notícia sobre a vida ceifada de uma pessoa negra, o importante era que todos estavam falando sobre isso e estar nesse ritmo era bom. Essa banalização dos nossos corpos é o resultado de uma sociedade doente e que não encara com seriedade as questões raciais.

A inquietude sobre essa situação tomou conta de seus pensamentos, e ele entendeu que poderia ao menos tentar mostrar a importância dos negros do município, como uma maneira de denunciar as atrocidades das quais a população negra é vítima ao mesmo tempo em que coloca-se em evidencia que esses corpos estão para além da ótica do racismos,  enaltecendo a diversidade e beleza dos mesmos. 

A escolha de uma mulher, para representar esse trabalho se deu principalmente por sua história como uma das personalidades que ao longo dos anos cunhou com o guia da ancestralidade africana a busca pela libertação do povo preto, e para além o fotógrafo reconhece os atravessamentos que perpassam a existência  das mulheres negras, o racismo e machismo sendo duas opressões que por vezes apaga e silencia trajetórias como a de Aqualtune.

Aqualtune teve papel fundamental para a formação do local que mais tarde seria conhecido como “A Nova Angola”, o império mata adentro. Para além de título nobre sua astúcia e conhecimento sobre estratégias de guerra e liderança foram reconhecidas pela comunidade e ela acabou a frente da organização do quilombo. Sua trajetória foi marcada pela liderança exemplar. Seu espírito de poder ancestral percorreu as veias de guerreiros, Ganga Zumba estava entre seus filhos e Zumbi foi seu neto, que honrou a sua memória como o último líder de Palmares.

Ver mais na integra no mesmo site

Aqualtune – O espírito guerreiro guiando os caminhos de Palmares

https://www.imprensapreta.com/2020/05/28/aqualtune-o-espirito-guerreiro-guiando-os-caminhos-de-palmares/

Redes de contato

Facebook: Luiz Moraes

Instagram: @luiz.moraes

e-mail: luizsantosmoraes@hotmail.com.br

Figura 1- Autoria de Luiz Moraes,2020.

“A minha participação no projeto da Aqualtune me  trouxe uma visão que eu não tinha antes desse projeto. A princípio quando eu chamei o Luiz, e disse que queria participar do projeto eu não tinha noção e nem consciência do que isso ia fazer na minha vida. Eu achei bonito o nome, então eu fui atrás para saber quem era a Aqualtune e o porquê desse nome.  E de verdade que história, que lindo!!!

Esse projeto me trouxe uma consciência que eu nem sabia que eu precisava dela. Me remeteu a um passado que talvez pela correria do dia a dia eu não tinha parado pra ler, pra estudar, pra saber. Eu não tinha consciência do quão grande era. Hoje depois de ver o projeto pronto de ter estudado sobre ele, eu posso dizer que SOU GRANDE COMO AQUALTUNE! “

Larissa Campos, 21anos

Figura 2 – Autoria de Luiz de Moraes 2020

“Quando o Luiz me mandou mensagem eu fiquei super empolgada pra participar, não pensei nem duas vezes porque além de todo sofrimento que nós passamos temos uma beleza indiscutível e de inúmeras tonalidades. Eu fiquei imensamente feliz porque o Luiz representou demais a beleza negra dos moradores de Monte Mor nesse projeto, desde os traços ao tom da pele. Pude perceber o quão fortes somos se nos juntarmos. Auto estima pra cima, meu cabelo pra cima!  Gratidão Luiz e a todas pretas e pretos que participaram desse projeto lindo”   

Mayara Gomes, 20 anos.

Figura 3 – Autoria Luiz de Moraes

“Bom eu achei o projeto muito empoderador, e me fez ver que a nossa luta está apenas começando, sem deixar de esquecer que a cor preta tem q ser mais valorizada pela beleza e inteligência a de qualquer outra cor existente, que todos os NOSSOS se empoderem e se amem.”

Pablo Sena, 18 anos

Figura 4 – Autoria Luiz de Moraes

“O projeto Aqualtune aconteceu em um momento que estava e ainda ESTÁ acontecendo vários conflitos raciais no mundo, o momento que povo preto quis mostrar que temos vez, que temos voz. Eu amei participar do projeto e exaltar a beleza negra. As pessoas podem até estar se conscientizando por causa da #blacklivesmatter# por exemplo, mais a divulgação dessa hashtag não pode ser a única ação. Consuma artistas negros, pesquisem livros, artigos sobre a temática e deem a voz para seus colegas de classe e amigos negros. Mais enfim como diz a Ângela Davis ” Em uma sociedade racista não basta ser racista e preciso ser antirracista”

Jaqueline Goncalves Alves, 17 anos

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Noemy Ariane Tomas

Noemy Tomas, militante negra, cientista social em formação pela PUC Campinas.
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By Noemy Ariane Tomas

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One thought on “Grandes Como Aqualtune: A beleza negra pelas lentes de Luiz Moraes

  1. Matéria Maravilhosa Estou emocionada em ler e ver a beleza como você abordou o tema latente e estereotipado de uma sociedade sem memória e consciência !

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